O OBJETO DA “TRADUÇÃO TÉCNICA”

O tradutor de textos técnicos lida com uma gama considerável de diferentes áreas do conhecimento que nem sempre lhe são de domínio. Manuais, projetos, contratos, bulas, resultados de pesquisas, artigos etc. fazem parte da diversidade de tipos textuais técnicos, para além disso, outro fator variante é a área nas quais o conteúdo desses textos está inserido.

Um indivíduo pode ser levado a se perguntar como uma única pessoa é capaz de traduzir uma gama variável de áreas do conhecimento, considerando o fato de que cada área possui diversas características linguísticas (principalmente a terminologia) e convenções únicas. A resposta para essa indagação está na própria tarefa de traduzir. Ao tradutor em formação, há a necessidade de aprender a identificar, consultar e catalogar aspectos textuais da forma mais eficiente possível, para assim, realizar a tradução.

Percebe-se desse modo que o ato de traduzir (de modo profissional e eficiente) é um ato técnico, logo, poderíamos supostamente entender toda tradução como tradução técnica. No entanto, o termo “tradução técnica” não é utilizado no meio profissional nessa perspectiva. Comumente diferencia-se o ato de traduzir a partir do gênero textual e do nível de especificidade linguística do texto fonte.

Segundo Cavaco-Cruz (2012, p. 23-40) há uma série de perspectivas divergentes sobre o que é uma “tradução técnica”. Nesse sentido, certos autores citados por Cruz conectam a tradução técnica ao meio científico (ou somente as ciências aplicadas); alguns outros entendem a tradução técnica como adaptação de um conteúdo técnico, e eventual simplificação, para um grande público; um grupo caracteriza esse tipo de tradução por conta da linguagem empregada por esses textos; e por fim, outros até mesmo negam completamente a existência da tradução técnica, em prol da existência unificada somente da tradução (Ibidem).

De todas essas proposições, acreditamos ser a mais produtiva para entender a tradução técnica (como definida anteriormente, a partir de seu objeto de “estudo”) aquela que trata esse modelo tradutório como um texto que possui uma linguagem técnica, específica e não acessível ao público comum.

Desse modo, ao tradutor técnico cabe identificar tal linguagem, consultar os materiais de apoio (como glossários e dicionários técnicos) e catalogar essas especificidades correntes para recriar o texto técnico na língua alvo, garantindo uma comunicação técnica entre as partes de diferentes países.

Isso não significa que as opiniões divergentes não possuam fundamento. Para as áreas tecnológicas, por exemplo, há constantemente uma simplificação e adaptação de materiais técnicos, por conta da inúmera quantidade de pessoas ligadas somente ao campo profissional e não científico.

Por fim, a tradução técnica também pode ser identificada pelas ferramentas que facilitam sua realização. Tais traduções são constantemente feitas por meio de ferramentas digitais, a chamada tradução assistida por computador (computer aided translation ou CAT), compondo comumente glossários; dicionários terminológicos; memórias de tradução; e outras ferramentas. Porém, de nada adiantaria tais ferramentas sem uma formação consolidada no método de tradução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVACO-CRUZ, L. Manual Prático e Fundamental de Tradução Técnica. Almada: Arkonte, 2012.